Redes na Floresta: Especial de entrevistas com lideranças quilombolas
Entrevistas com lideranças quilombolas trazem reflexões sobre as políticas de conectividade e a chegada da Starlink nos quilombos da Amazônia Legal.
O InternetLab lança hoje o Especial de entrevistas com lideranças quilombolas. O Especial reúne um conjunto de quatro entrevistas realizadas com lideranças quilombolas de diferentes estados da Amazônia e faz parte da iniciativa de pesquisa “Redes da Floresta”, realizada em parceria com o Instituto Nupef e apoio da Fundação Ford.
Como destacado na pesquisa “Redes na floresta: mapeamento das políticas de conectividade na região amazônica brasileira” o simples acesso à internet não é suficiente para superar a exclusão digital, sendo necessário a estruturação de políticas que garantam uma conectividade significativa das comunidades da Amazônia Legal. Ou seja, que considerem a conectividade como direito fundamental e porta de entrada para outros serviços e direitos, tais como: benefícios sociais, aposentadoria, educação, lazer, fazer denúncias de violações de território.
Contudo, alguns fatores estruturais, que articulam desigualdades econômicas, territoriais e infraestruturais devam ser observados como: a cobertura limitada, a baixa qualidade do sinal, a alta densidade da floresta, a população dispersa no território, os altos custos de conexão, o acesso restrito a dispositivos e a insuficiência energética. Todos esses aspectos conformam um cenário que compromete a universalização da conectividade e o acesso à internet para os denominados “povos da floresta”.
Diante desse cenário, a chegada da Starlink e o crescimento da internet via satélite de baixa órbita, como uma alternativa para resolução do problema de conexão na Amazônia, ilustram como as soluções privadas têm ocupado espaços deixados vagos pela ausência de políticas públicas efetivas de conectividade.
Com objetivo foi ouvir e dar visibilidade a percepção da população local sobre as mudanças geradas pelo chegada dos satélites, o InternetLab, em conjunto com a consultoria de Cristivan Alves – comunicador comunitário e quilombola do Igarapé Arirá de Oeiras do Pará -, realizou, durante 2024, entrevistas com lideranças quilombolas de territórios amazônicos.
Com isso, alguns questionamentos foram levantados: o que significa acesso à internet nas comunidades? Quais são os principais usos? Qual é o cenário atual das políticas de conectividade no território amazônico e nas comunidades dos entrevistados? Qual a percepção sobre o uso da Starlink? Existe algum tipo de ação estatal para que a conectividade seja atingida? Quais são os principais desafios para que a conectividade seja plenamente inserida nas comunidades? Houve mudanças comunitárias com a chegada da internet? A percepção sobre a internet mudou com a presença de tecnologias como os satélites de baixa órbita?
Os(a) entrevistados(a) dizem que há uma preocupação sobre o uso da Starlink e da chegada da internet nos territórios. Entretanto, as lideranças afirmam que a internet tem o potencial de ampliar o acesso a direitos básicos da comunidade. Desse modo, para todos que ouvimos, o acesso à internet deve ser garantido por políticas públicas construídas a partir da escuta ativa das demandas e especificidades das comunidades
Nesse especial, trouxemos contribuições-chave para a reflexão crítica sobre a conectividade no território amazônico que podem ser conferidas na íntegra:
- José Carlos Galiza, do quilombo Guajará Mirim/PA, liderança nacional do movimento quilombola e coordenador do projeto Conexão Povos da Floresta.
- Célia Cristina da Silva Pinto, do território quilombola Acre Cururupu/MA, liderança e representante do coletivo de mulheres negras rurais quilombolas.
- Janilson Soares Rodrigues, professor, agricultor e liderança da comunidade quilombola Kalunga do Mimoso/TO.
- João Nascimento Salles, conhecido também como João Quilombola, é integrante da CONAQ, liderança da comunidade quilombola Lagoa dos Índios/AP.