Pesquisa revela como latino-americanos consomem e disseminam informação online e offline
O estudo coletou mais de seis mil respostas de cidadãos de diversos países da América Latina; iniciativa é fruto de parceria entre o InternetLab e a ReCoS.
Buscando compreender as dinâmicas de disseminação e consumo de informações na América Latina, o InternetLab, em parceria com a organização Rede Conhecimento Social (ReCoS), lança a pesquisa “Vetores e implicações da desordem informacional na América Latina”. O estudo aborda em detalhes a relação dos usuários com as plataformas digitais, percepções em relação à confiabilidade de fontes de informação e estratégias de combate à desinformação.
A pesquisa integra o projeto Resisting Information Disorder in the Global South, financiado pelo IDRC, sob a coordenação da Universidade de Stellenbosch, e conta com parceiros na Ásia, MENA e África – o InternetLab lidera as pesquisas realizadas na América Latina.
O relatório de pesquisa já está disponível para acesso, com análises detalhadas por recortes de classe, escolaridade, idade e território. O resumo executivo da pesquisa, com os destaques, também está disponível.
A coleta de dados quantitativos contou com mais de 6 mil respostas de pessoas provenientes de 19 países. Foram realizadas ainda oficinas virtuais para análise qualitativa do material, bem como encontros com um conselho consultivo de especialistas latino americanos em temas como comunicação política, estudos de redes e direitos digitais.
Buscando obter interpretações robustas dos dados coletados, as respostas foram divididas em 5 agrupamentos territoriais: (i) Brasil; (ii) Cone Sul – formado por Chile, Argentina Paraguai e Uruguai; (iii) Andes/Amazônia – formado pelo Peru, Colômbia, Equador, Venezuela e Bolívia; (iv) América Central – República Dominicana, Costa Rica, Guatemala, Honduras, Nicarágua, El Salvador, Panamá e Porto Rico; e (v) México.
Os resultados apontam para uma desconfiança generalizada, devido ao volume de conteúdo e à dificuldade de verificação de veracidade das informações. Em resposta, usuários recorrem às suas redes e “fontes” de confiança, construindo seus próprios ecossistemas informacionais. Veja abaixo outros destaques da pesquisa:
Uso das plataformas
As plataformas da Meta são as mais utilizadas pela América Latina, com destaque para o Whatsapp, seguido pelo Facebook e Instagram. As plataformas do Google – Youtube e sua ferramenta de busca – seguem logo atrás. O Brasil e o Cone Sul se destacam por maior uso do YouTube (83% e 82%, respectivamente), e o território da América Central pela preferência de uso do TikTok (71%).
Dinâmicas de consumo de informações
Na América Latina, as plataformas mais utilizadas para consumo de notícias divergem significativamente entre agrupamentos territoriais, com predominância do Google e do Instagram no Brasil, enquanto América Andina/Amazônica, América Central e México se destacam pela prevalência do Facebook. Na América Central destaca-se também o uso do TikTok para essa finalidade.
Além disso, o consumo de informações na América Latina é multimídia e multiplataformas. 7 em cada 10 respondentes utilizam diferentes meios para se informar, buscando informações adicionais em sites, plataformas, tv ou rádio após verem a informação inicialmente em um desses meios.
Compartilhamento de informações nas plataformas
O Facebook aparece como a plataforma em que as pessoas mais dizem compartilhar notícias na América Latina, com destaque para seu baixo uso no Brasil (31%) em contraponto ao seu alto uso no México (69%). No Brasil, destaca-se o uso de WhatsApp e Instagram, enquanto na América Central e na América Andina/Amazônia o uso do TikTok para compartilhar notícias é maior que nos outros agrupamentos territoriais.
Visão sobre tratamento de temas relevantes
Há uma desconfiança generalizada em relação às informações que circulam nas mídias. Mais da metade dos respondentes acredita que grande parte das notícias é falsa – no Brasil, essa percepção é ainda maior em relação à temática das eleições. Essa desconfiança resulta da percepção de que há diferentes formas de distorções nas formas de circulação dessas informações.
Referências confiáveis
Em geral, profissionais da área e especialistas são vistos como mais confiáveis para falar sobre os temas de Segurança Pública, Política e Saúde Pública. O Brasil destaca-se por apresentar índices maiores de confiança em pessoas mais próximas, como família e amigos – e em si próprio: cerca de 1,5 a cada 10 afirma que se considera confiável para falar sobre os temas.
Hábitos de consumo de informação
Na América Latina, metade das pessoas prefere se informar por plataformas online, associando-as à rapidez no acesso às notícias. Além disso, 7 em cada 10 vêem nelas um recurso para verificar a veracidade das informações e 8 em cada 10 valorizam a possibilidade de acessar opiniões ausentes da mídia tradicional.
Confiança nos meios de comunicação
Ferramentas de busca são consideradas meios mais confiáveis, com um terço dos respondentes na América Latina afirmando que confiam nelas para quase todos os assuntos. Logo após, aparecem as mídias tradicionais, como o rádio, jornal impresso e TV, no ranking, com 25% dos respondentes afirmando que confiam nelas para todos os assuntos. Ainda assim, há quem confie especialmente nos meios digitais por conterem informações que não são divulgadas nos noticiários das grandes mídias.
Estratégias de verificação
Usuários valorizam a facilidade de acesso à informação que permite verificar a veracidade do conteúdo no próprio contexto. A presença de rótulos de checagem evita que as pessoas compartilhem conteúdos desinformativos, com quase dois terços dos respondentes afirmando não compartilhar conteúdo que tenha sido rotulado como falso pelas plataformas. Para além disso, os comentários de uma publicação também são usados como mecanismo de checagem.
Posicionamento quanto à regulação das plataformas
Quatro em cada dez pessoas na América Latina apoiam algum tipo de regulação das plataformas, mas as posições variam conforme a orientação política. Entre pessoas de esquerda, prevalece o apoio, sobretudo à regulação por lei. Já entre as de direita, predomina a rejeição, especialmente à regulação governamental. No centro, cerca da metade defende algum tipo de regulação, mas também cresce a resistência quando o regulador é o governo.
O resumo executivo traz os gráficos e uma leitura mais detalhada dos principais resultados da pesquisa. O relatório completo também já está disponível – clique aqui para acessar o documento.